terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Peças foram dadas durante anos a 'única pessoa que podia tocar cabeça' de Picasso.


Uma exposição em Madri traz quadros e objetos colecionados por um barbeiro, todos eles presenteados pelo seu cliente mais famoso: o gênio da pintura Pablo Picasso.

O espanhol Eugenio Arias foi a única pessoa que cortou o cabelo de Picasso durante 26 anos.

Uma das manias do gênio espanhol Pablo Picasso era evitar que lhe tocassem a cabeça. O pintor acreditava que ali estava o centro de seu poder criativo e qualquer interferência poderia ser prejudicial. Por isso manteve uma relação fiel com um único barbeiro.

Esta amizade rendeu a coleção de obras de arte inaugurada na segunda-feira, a mostra do barbeiro de Picasso.

O artista conheceu o barbeiro no exílio, na França, em 1948. Ficaram amigos a ponto de Picasso presentear Arias com quase cem peças.

Conhecido como "o barbeiro de Picasso", Arias guardou a coleção em casa e doou o patrimônio à Espanha depois que o país retomou a democracia.

O pequeno Museu Picasso - Coleção Eugenio Arias foi inaugurado em 1985, com 54 peças, no município madrilenho de Buitrago, onde o barbeiro nasceu.

Fechado em 2007 para uma reforma, ele foi reaberto na segunda-feira com 71 objetos, inclusive fotos e um inédito vídeo em que Picasso e Arias contam como se conheceram.

'Sem bajulação'

O curador da mostra, Antonio Olano, disse à BBC Brasil que a relação entre Picasso e Arias foi de amizade verdadeira porque o barbeiro era das poucas pessoas que não bajulavam o artista.

"Arias não tinha receio de desagradar Picasso e muitas vezes lhe disse que algumas de suas idéias eram porcaria!"

"Era provavelmente o único que não o bajulava e isso Picasso valorizava muito. Tinham conversas francas e cotidianas. Picasso se interessava pela situação dos espanhóis no exílio e de suas famílias que tinham permanecido na Espanha. Esse ambiente ele encontrava no salão de Arias".

Comunistas declarados, o artista e o barbeiro tinham pontos de vista em comum sobre direitos humanos em pleno período de ditadura militar na Espanha. Também eram apaixonados por mulheres e touradas.

A mostra está dividida nessas três áreas temáticas com as obras de Picasso dedicadas a Arias.

O artista chegou a criar objetos especialmente para a decoração do salão e até fez uma caixa de madeira para que o barbeiro guardasse seus instrumentos de trabalho.

Em um dos vídeos da exposição, Arias conta as manias e anedotas do pintor. Entre elas, uma queixa habitual de Picasso - em todos os lugares onde ele entrava, os outros clientes o deixavam passar antes.

"Ele ficava chateado. Fazia questão de chegar ao salão e insistir para ficar na fila. Dizia que o mundo não dava certo com as desigualdades e todo mundo merecia ser tratado igual. Para isso era comunista", contou o barbeiro, que morreu em abril do ano passado.

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